quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Jugan, the Rising Star


Kazuki espantou o sono de seus olhos enquanto escalava o caminho espiral. Ele esperava que a convocação de Mestre Hokuan não o fizesse chegar atrasado aos treinos. Talvez, pensou ele, se o Mestre quisesse apenas dizer algumas palavras, ele poderia fazer suas meditações matinais antes do dia amanhecer. Seus pés descalços tomaram o caminho do templo dando passos mais velozes.

Eles não eram realmente passos, assim como o templo não era uma estrutura construída por mãos mortais. Árvores de tamanho imenso inclinavam-se e cresciam lado a lado há muitas centenas de pés de altura, enroscando-se umas nas outras para formar um círculo denso de madeira conhecido simplesmente como a Muralha. No centro da mesma ficava uma árvore tão grande que Kazuki acreditava ser a maior de toda floresta Jukai, maior até mesmo que Boseiju (Boseiju, Who Shelters All) ou a Árvore Central, mesmo que ele nunca tivesse visto nenhuma das duas. A grande árvore, Fudaiju, e sua Muralha circundante eram o templo e a casa de Kazuki. Os nós que circundavam os troncos da árvore formavam o caminho espiral que ele havia escalado desde sua infância.

Gerações atrás, até onde a história pode contar, uma ordem de monges encontrou seu monastério destruído por uma debandada de cervos. Eles recuperaram apenas seu mais sagrado sino das ruínas, um sino que eles carregaram por Jukai até que encontraram esta árvore com protegida por seu escudo circundante. Os monges colocaram o sino em um tronco de Fudaiju e fizeram abrigos atrás da Muralha. Todos os anos vários viajantes e devotos vão à Fudaiju para rezar, vislumbrar a beleza da natureza e testar sua força e suas habilidades de luta contra os melhores da ordem.

Kazuki fechou a cara. Recentemente, rumores da guerra também chegavam. Rumores que inquietaram a Ordem do Sino Sagrado como a um formigueiro espezinhado. Cada vez mais chegavam visitantes atrás de proteção e abrigo ao invés de meditação e treino. Poderia a convocação de Mestre Rokuan estar, de algum modo, ligada aos rumores? Kazuki continuou a circundar a árvore, subindo cada vez mais rápido na escuridão da madrugada. Seus pés calosos riscavam suavemente a casca desgastada, o único som fora sua respiração.

"Saudações, Kazuki. Você chegou bem na hora."

Kazuki curvou-se respeitosamente. Ele tinha estado tão concentrado em seus pensamentos turbulentos que não havia percebido que havia chego. Sobre um tronco plano, tão largo quanto um barco, Mestre Rokuan ficava observando a floresta Jukai. Ele era velho, seus cabelos brancos caiam próximos à seu cinto, mas apesar disso ele ainda tinha o corpo forte. Sua postura mostrava força e dignidade. Kazuki ergueu-se de seu cumprimento para aproximar-se das costas largas e nuas de Mestre Rokuan.

Rokuan não se moveu quando Kazuki parou ao seu lado. Primeiramente o jovem homem olhou para seu mestre. A boca de Rokuan estava como uma linha severa, sua expressão, séria. Seus olhos, que brilhavam com uma luz verde como atestado de seu poder, não se moviam. Depois de um longo tempo de silêncio Kazuki não pode fazer nada além de seguir o olhar implacável e se juntar a seu mestre que vigiava a floresta.

A muralha se torcia e se enroscava num emaranhado complexo à sua volta, separando Fudaiju de seus irmãoes menores. Como os ramos de Fudaiju continuavam acima deles, Kazuki se sentia como se estivesse no topo de Kamigawa.

"É lindo." - sussurrou Kazuki.

"É?" - Disse Rokuan. – "Olhe melhor, pupilo." - Por várias batidas de coração Kazuki só pode ver as silhuetas vagas de incontáveis árvores. Aqui e ali ele pode vislumbrar um galho ou uma aglomeração de folhas na quase luz da manhã que chegava. Seus olhos se cansaram e então seus ouvidos se juntaram em sua busca.

"Está muito silencioso..." - ele disse. - "Eu não posso ouvir aves ou insetos."

"Sim." - concordou Rokuan.

"Mas... mas o que isso significa, Mestre?"

"Como eu disse, você chegou bem na hora." - Os olhos verdes de Rokuan pareceram queimar por um momento enquanto ele observava Jukai. – "Aqui vem eles."

Mais uma vez Kazuki não pode ver nada a princípio. A floresta Jukai parecia como uma silenciosa massa de árvores. Então sombras se moveram e se acenderam. Kazuki observava enquanto uma perna de aranha, quatro vezes mais longa que um cajado bo, agarrou um carvalho na parte de fora da Muralha. Outra perna a seguiu. Da escuridão a coisa apareceu, dúzias de pernas de aranhas que tinham por corpo um globo duas vezes o tamanho de um boi. A criatura se sacudiu próxima à Muralha, esperando.

A mente de Kazuki mal tinha registrado a coisa-aranha quando seus olhos perceberam mais movimento em outro lugar das copas de Jukai. Outras sombras se moveram e se tornaram imensas esferas com pernas de aranhas demais. Repentinamente pareceu que toda a floresta tinha ganhado vida, mesmo que Kazuki não pudesse ouvir sequer um simples farfalhar de folhas. Fileiras das criaturas avançavam aproximando-se do perímetro da Muralha, então paravam para se sacudir ameaçadoramente entre os galhos.

A respiração de Kazuki vinha em espasmos curtos. "O que... o que são eles, Mestre?"

"Kami." - Respondeu Rokuan, sem nunca tirar os olhos verdes de Jukai. - "O mundo além do véu declarou guerra contra nós, meu pupilo, e nós agora somos convidados a nos defender. Meu palpite é de que esses kumos são a primeira onda de ataque contra nosso templo, um ataque furtivo para nos pegar de surpresa e nos destruir totalmente."

(nota: Kami é a palavra japonesa para denominar espíritos, forças naturais ou essências místicas que fazem parte da crença do Xintoísmo. Kumo é o termo japonês para aranha)


"Kami? Mas..." - Engasgou-se Kazuki.

"Sim." - Simplesmente disse Rokuan.

Kazuki assistiu horrorizado enquanto o primeiro kumo avançavam das árvores, caindo silenciosamente no chão da floresta. Outro o seguiu, e mais outro, até que toda a floresta rastejava com pés de aranha em direção à Muralha.

"Não fique em pânico, meu pupilo." - Disse Mestre Rokuan. – "O plano deles falhou. Nós não vamos enfrentar esta primeira onda sozinhos."

Kazuki virou-se para seu mestre. O velho homem ainda não havia tirado os olhos da floresta, não tinha ainda mudado sua postura. Rokuan era a imagem da calma. Quando Kazuki falou, ele pode ouvir sua voz quebrar de medo. "Mestre, o que você..."

Um rugido partiu o ar da manhã, agitando Fudaiju e jogando Kazuki em direção aos troncos. Uma coisa enorme se lançou dos galhos, fazendo chover folhas sobre mestre e pupilo. Kazuki cambaleou e caiu de joelhos a tempo de ver um dragão se elevando sobre a Muralha em um selvagem e bonito arco. A cabeça do dragão era como a de um lagarto com galhadas que percorriam uma trilha a partir de seu único olho central, e bigodes saiam de suas mandíbulas. Atrás da cabeça o corpo longo e serpenteante do dragão chicoteava no ar enquanto ele descia em direção aos kumos.

"Eis Jugan, a Estrela Ascendente!" - Gritou Rokuan, para se fazer ouvir por sobre o rugido. Ele não havia se movido, apesar da grande entrada do dragão. – "Jugan, o grande espírito que protege este templo! Eu convoquei o escudo de Fudaiju e ele apareceu."

Pequenos braços próximos à cabeça lisa do dragão se debatiam como chicotes. Jugan arrebatou dois kumos em cada garra e os atirou em direção ao céu, quebrando os kamis como se fossem frutas maduras. Mesmo na morte os kumos não emitiam som algum, seus corpos mutilados caindo vagarosamente do aperto de Jugan.

Os kumos remanescentes se recuperaram rapidamente de sua surpresa. Em legiões eles se atiraram entre as árvores, teçendo teias fantasmagóricas, que pareciam feitas de muco descorado, entre eles. Em segundos as copas de Jukai estavam inundadas com uma substância pegajosa que parecia neve molhada. Jugan, arrancando em direção a eles, se virou e se torceu para evitar a armadilha. Caindo, o dragão espírito freou na massa branca esticada entre as árvores.

Jugan se arrastou entre as teias, desenraizando carvalhos e fragmentando ramos. Seu longo focinho se esticou para separar as pernas de aranhas de seus corpos enquanto os kumo avançavam. Por um momento pareceu que o dragão espírito iria sucumbir ante os kami-aranha. Porém, tão cedo vários kumos saltaram dos galhos sobre Jugan, o dragão se soltou de suas amarras. Dezenas de kumos caíram sobre a terra desajeitadamente enquanto Jugan subiu em linha reta para cima, através das copas das árvores e para o céu claro. Por um momento o dragão se enrolou em círculos apertados, usando seus braços para se livrar das secreções dos kami. Jugan rugiu em triunfo, sacudindo a floresta de Jukai.

O dragão mergulhou até alguns pés do chão da floresta, circulando pelo lado de fora da Muralha como um tubarão esmeralda. Kazuki tinha se colocado novamente ao lado de seu mestre e os dois olhavam o corpo lustroso e serpentino de Jugan enquanto ele girava em volta deles. Vários kami se jogaram em sua direção de seus abrigos nas árvores, tentando parar o dragão, mas sempre um dente, garra ou cauda os abatia, partido-os como se fossem ovos. Por um momento, finalmente, os kumos pareceram desorganizados e incertos de como proceder contra essa esmagadora ameaça.

"Você testemunhou uma coisa monstruosa hoje." - disse Mestre Rokuan. – "Apenas cinco desses existem no mundo, cada um jurou proteger um dos assentamentos mortais mais importantes. Eu estou feliz em ver que mesmo quando os kami se viraram contra nós, os dragões-espírito mantiveram sua palavra. Fudaiju é o centro espiritual de Jukai e nós não podemos deixá-la cair."

Jugan continuava a circular abaixo, quase invisível devido à sua velocidade. De novo e de novo ele se lançava contra os carvalhos com um quebrar de madeira, arrebatando kami com seus dentes e os sacudindo até que suas entranhas molhadas decorassem as árvores. Os kami recuaram para dentro de Jukai, um por um, desaparecendo nas sombras da manhã.

"Nós estamos salvos." - suspirou Kazuki. Ele era extremamente musculoso, com o corpo nu, exceto por calças vermelhas e um cinto. Alguns diziam que se Kazuki não era o mais forte da ordem, pelo menos ele era o mais corpulento. Ele foi ensinado a suportar extremos de calor e frio desde os onze anos, mas apesar de sua resistência ele se via agora tremendo.

"Salvos?" - Desdenhou Rokuan. Abaixo, Jugan rugiu. – "Você não me mostra nada além de falta de visão, Kazuki, e me faz pensar se eu escolhi o pupilo correto para a missão que vai determinar se nos salvaremos ou não."

"Mestre?"

Rokuan suspirou audivelmente. Seus olhos ainda escaneavam a floresta e o dragão. -"Espere um momento... Ali, mais kumos chegaram."

A floresta inteira encheu-se do som de pedras de rio batendo umas nas outras. Vindos dos arbustos uma nova espécie de kami avançava na direção de Fudaiju. Esses kami pareciam mais com uma aranha do que a onda anterior, ainda que também tivessem pernas demais saindo de corpos do tamanho de cavalos e sua carne parecia ser feita de pedra coberta de musgo. Extendidos à frente de cada kami ficavam longos braços terminando em lâminas no formato de foices.

"Eu suponho que os kami tenham desistido de se aproximarem sem chamar atenção agora que Jugan chegou, não é? Bom. Eu acho os kumos tecelões de orbes inquietantes em seu silêncio. Vamos ver como Jugan se sai contra esses novos kumos." - Mestre Rokuan parecia estar falando mais consigo mesmo do que com seu discípulo.

Kazuki levantou o pescoço para poder ver melhor. O templo sibilava com a atividade agora. Monges budoka corriam em pares de Fudaiju para a Muralha. Armas de todos os tipos e tamanhos estavam sendo alinhadas do lado de dentro da Muralha. Aqui e acolá, monges de outras ordens se ofereciam para ajudar. Gritos de vários tipos ecoavam em volta do templo, alguns de horror, outros de comando e outros ainda para procurarem Mestre Rokuan.

O rugido de Jugan trouxe a atenção de Kazuki de volta para o campo de batalha. O dragão espírito rasgava esses novos kami ao meio com seus braços, quebrava-os com suas pesadas garras, e os esmagava com sua cauda chicoteante. Jugan lembrava a Kazuki uma pipa pega num turbilhão de ventos enquanto seu corpo tentava estar em todos os lugares ao mesmo tempo, para não deixar um único kami chegar à Muralha. Os kumo golpeavam o couro escamado de Jugan apenas para serem desmembrados por sua ira.

Um som como o de um trovão ressoou por Jukai. Kazuki virou sua cabeça e achou facilmente a fonte desse som. Árvores eram derrubadas violentamente da floresta enquanto uma coisa de além das copas vinha na direção de Fudaiju. Jugan jogou vários kumos e correu para enfrentar a nova ameaça. Quando o dragão chegou, um kami ainda maior que ele apareceu do chão de Jukai. Uma vez que os kumos lembravam aranhas gigantescas, esse novo kami parecia uma centopéia gigantesca cujo corpo negro extendia-se para dentro da floresta. Enquanto Kazuki assitia horrorizado, a centopéia se levantou numa altura gigantesca, com a clara intenção de se jogar sobre a Muralha, despedaçando-a.

Ao invés disso, Jugan parou a queda do kami no meio. Dragão e kami rolaram de lado num misto de inseto e serpente, destruindo carvalhos como se fossem gravetos. Kazuki cobriu os ouvidos quando o som da quebra e o do rugido do dragão se misturaram no ar da manhã. Ao seu lado, Mestre Rokuan assistia ao encontro sem esboçar nenhuma reação.

Dúzias das pernas escarlates do kami seguravam Jugan próximo à seu corpo enquanto mandíbulas gigantescas enfiavam-se no couro do dragão. Jugan rugiu de dor e raiva, torcendo-se para se soltar e revidando com seus próprios dentes. O kami resistia enquanto as longas presas de Jugan perfuravam sua carapaça, mas o dragão se recusava a soltar sua presa. Um fluido, negro e brilhante na luz opaca, jorrou da ferida do kami. Com um som como o de uma mordida numa maçã, a carapaça se partiu na mandíbula de Jugan e o enorme kami caiu no chão da floresta.

Da ferida do kami milípede emergiram mais kami. Os corpos esféricos e grotescos dos kami silenciosos saíram para o ar fresco, cobertos do sangue negro do kami. Sem hesitar eles lançaram seu muco branco sobre Jugan. O dragão dançava no ar, carregando as teias dos kumo como se fossem tranças.

"Haviam kami dentro da criatura?" - Engasgou Kazuki. Ele podia ouvir sua voz quebrando com o medo novamente.

"Alguns kami da floresta não morrem, meu pupilo, eles apenas são empurrados para dentro do véu novamente. Nós só podemos esperar que dessa vez seja por um longo tempo."

"Mas contra tantos, como pode Jugan vencer?" - Perguntou Kazuki. Sobre o templo o dragão havia se livrado das teias e as atirava sobre a floresta. Ele rugiu quando vários kumo avançaram para a Muralha, então o dragão mergulhou sobre eles.

Rokuan tirou os olhos da floresta pela primeira vez. Ele olhou diretamente para seu pupilo com seus brilhantes olhos verdes. O céu havia clareado consideravelmente, permitindo a Kazuki enxergar cada ruga na face de seu mestre. Inexplicavelmente, um medo maior do que qualquer um que Kazuki ja havia sentido antes se apoderou dele pela antecipação do que Rokuan lhe diria a seguir.

"Use seus olhos, Kazuki! Jugan não pode vencer. Os kami ja o haviam ferido e suas forças eram impiedosas. Nenhum escudo, não importa o quão grande seja, pode resistir a tantos ataques. Eles vão sobrepujar o guardião do nosso templo e nós iremos enfrentar os kami nós mesmos."

Kazuki deu um passo para trás involuntariamente e disse: - “A partir de quando?

Rokuan voltou a assistir à batalha. Sua voz se tornou quase casual quando ele respondeu: - "Quem pode dizer? Jugan lutará por dias, talvez semanas. Talvez até meses!"

"E então...?"
Rokuan estalou sua língua. – "Não fique tão desesperado, Kazuki. Nossos corpos são fracos se comparados aos dos kami, o nosso conhecimento é limitado e, nossa mágica, fraca. Ainda assim tomamos fôlego, que por si só é motivo de esperança. Nós iremos enfrentar esses ataques dos kami com surpresas nossas quando chegar a hora."

"Além disso..." - sorriu Rokuan – "eu não acho que Jugan irá deixar esse mundo sem uma bênção para aqueles que ele protege. Fudaiju e seus filhos irão enfrentar os kami audaciosamente."

A terra tremeu quando Jugan caiu do céu para desmembrar uma falange de kumo que se aproximava da Muralha. Dúzias dos kami com lâminas de foices pularam das árvores, eles planejavam prevalecer sobre o dragão espírito com seu grande número. Jugan torceu-se e sacudiu-se, um borrão de dentes e garras, antes de se lançar ao ar novamente. Na luz da manhã, Kazuki pode ver várias pequenas feridas no corpo do dragão quando ele passou perto de seu poleiro.

"Exceto você." - disse Rokuan.

"Mestre?"

"Você é um bom lutador, Kazuki, e indiscutivelmente o mais forte de corpo. Mas é precisamente por essa força que eu preparei uma missão diferente para você nessa batalha. Eu te chamei aqui para te mostrar o que nós vamos enfrentar e para você entender a grandiosidade de sua missão. Quando você deixar minha presença, entre no câmara do sino. Solte a tora do muro e faça o sino soar."

"Mestre?" - Disse Kazuki fracamente. Sua cabeça balançou. O sino sagrado suspenso no coração de Fudaiju, ninguém da ordem havia ouvido seu som antes. O sino era um artefato, algo para lembrar à ordem de sua história e concentrar suas orações. Kazuki nunca havia pensado nele como algo a ser usado, nunca - espantoso como isso agora parecia para ele - havia acreditado na mística que envolvia o sino.

"Faça o sino soar uma vez e espere o som sumir." - disse Rokuan severamente. - "Quando você não puder ouvir nada do soar do sino, exceto pelo zumbido em seu ouvido, bata nele novamente. Continue batendo com toda sua força, Kazuki. Quando você tiver perdido sua audição você já saberá quanto tempo deve passar entre uma batida e outra. Se alguém puder ser poupado, eu enviarei comida e bebida para você. Mas mesmo que eu não o faça, continue batendo mesmo que a fadiga o esteja matando. Entendeu?"


"Eu..." - Começou Kazuki. De baixo de seu poleiro Jugan soltou outro rugido que fez a grande árvore tremer.

"Você entendeu?" - Perguntou novamente Rokuan. Ele tinha se virado para seu pupilo novamente, aqueles olhos verdes perfurarariam o coração de Kazuki.

"Eu entendi."

"Ótimo. Eu temo que a Ordem do Sino Sagrado sejam os únicos que se lembrem que o som do sino sagrado é um pedido de ajuda. Eu rezo para estar errado. Enquanto você bater no sino, você deveria rezar pelo mesmo. O sino deve trazer ajuda antes de Fudaiju ser devastada, antes de o sacrário sagrado ser destruído."

Mestre Rokuan suspirou, colocando uma mão no ombro de seu pupilo.

"Vá!"

Kazuki parou um momento. Ele desceu o caminho espiral, circulando a grande árvore. Os gritos dos monges se tornaram claros enquanto ele descia. Ecos da batalha vinham assustadores dos confins da Muralha, sons de rios de pedras se batendo e de frutas sendo destruídas por garras de dragão.

Quando amanheceu sobre Fudaiju, Kazuki alcançou a câmara do sino. Do lado de fora, Jugan, a Estrela Ascendente, rugia como um deus raivoso.

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