quinta-feira, 21 de março de 2013

Cerco à Thraben


O lunarca Mikaeus está em seu escritório. Uma tênue vela provê a única fonte de luz sobre a mesa, enquanto ele escreve uma carta para sua irmã noticiando as infelicidades em Thraben, capital da província de Gavony, em Innistrad. Algumas igrejas foram saqueadas pelo povo descrente revoltado. O enfraquecimento das proteções divinas é realmente grave. Os relatos incessantes de migração de carniçais, assassinatos sangrentos e ataques de lobisomens causaram-lhe a perda de muitas noites de sono. Mais do que nunca, ele reza com todo seu coração para que Avacyn retorne. Até lá, sua decisão é permanecer em Thraben a todo custo. Afinal, ele teme que seu poder, embora fraco comparado ao de Avacyn, seja a única força que mantém os fiéis a salvo.

Enquanto isso, o necromante Geralf também enviou um recado para sua irmã Gisa, revoltado com a falta de respeito dela para com as regras de conduta da Guerra Necromântica. As cinco diretrizes são bem claras: Sem invocações espontâneas; Sem atrair, matar e transformar pessoas e rebanhos; Os combatentes se enfrentam em um lugar e horário pré-determinado; Os Combatentes devem ter no mínimo 3 membros para participar; Os quartéis-generais estão fora dos limites.

No entanto, Gisa não está nem um pouco interessada em concordar com tais formas de agir. Pelo contrário, ela decidiu que vai sempre lutar da sua forma, erguendo  carniçais no meio da batalha e usando torsos sem pernas como soldados. Geralf reclama que seus skaabs tem marcas de dentes nas pernas por causa destes sacos de carne rastejantes que sua irmã convoca.

Gisa é uma feiticeira objetiva e de temperamento forte, capaz apenas de assoviar para que os zumbis saiam dos túmulos. Geralf monta e sutura sua criações de acordo com as características que deseja ressaltar para depois reanimá-los, sendo capaz de combinar diversos corpos falecidos em um novos espécies mais fortes e muito mais assustadores (chamados de skaab). Ambos necromantes sempre discutem sobre o melhor tipo de morto-vivo para utilizar como exército. Geralf defende a confecção de corpos agrupados entre si para garantir maior força ou destreza, enquanto Gisa acha que eles devem ser numerosos e resistentes.

Cansado de jogos políticos a respeito de quem é o dono de qual território, Geralf decide tomar Thraben e dividí-la com Gisa para que ambos controlem uma esplendorosa cidade de mortos-vivos. No entanto, a verdadeira intenção do necromante é se apoderar da Catedral e do lunarca Mikaeus. Em uma tentativa de se aprimorar, Geralf pesquisou a natureza do Sono Sagrado e também criou o zumbi Grimgrin, batizado de "cadaveroso"como uma forma de zombaria a sua irmã. Geralf postulou que o estado da mente de um skaab é equivalente ao de uma pessoa que adquiriu esse estado sagrado. Então, na verdade, ele estaria dando as pobres pessoas aquilo que elas mais desejam, no final das contas. Para Gisa, isso tudo era apenas divagação, mas ela concordou em somar suas forças com o irmão para investirem contra a cidade. Ambos sabiam que sozinhos nem mesmo todas suas falanges de mortos-vivos seriam capazes de sobrepujar as muralhas da cidadela. No entanto, unindo suas forças havia chance muito mais palpável.

À medida que ambos exércitos começam a marchar, visando encontrarem-se na área de Elgau, um recanto rural nas proximidades de Thraben, um rastro de sangue e morte mancha os campos. O tenente Traken solicita ao Bispo Alwin para dirigir uma solicitação de ação imediata ao lunarca Mikaeus para evitar que aquela infestação de zumbis aproxime-se mais. No entanto, os relatos do inquisidor são inicialmente ignorados e as fileiras de mortos-vivos tomam Elgaud, dizimando praticamente toda a população, exceto alguns poucos que sobreviveram refugiados no interior da paróquia local.

Em suas correspondências sobre a terrível situação, Traken menciona uma criatura nefanda chamada Grimgrin: "Nós descobrimos os corpos mutilados da vila inteira ao amanhecer na estrada de Westvale. No topo da colina, nós avistamos Grimgrin. É um skaab enorme. Duas vezes o tamanho de um homem. Sua cabeça está afundada em seu peito, cercado por um ninho de ferro e carne apodrecida. Legiões de mortos perambulavam atrás dele, como ovelhas atrás de um pastor. Você sabe que eu não sou um homem de exageros, mas não consigo traduzir a escala deste problema. Você deve levar meu relato ao lunarca imediatamente. Os pântanos tornaram-se um campo de matança. Esse skaab é uma força como nenhuma que já enfrentamos antes."

Enfim convencido de que o perigo de um ataque massivo de mortos-vivos é real, o bispo Alwin leva o assunto para o lunarca. Entretanto, a fé de Mikaeus está cada vez mais abalada e ele dá ordens para que seja organizada a proteção da cidade pois as áreas rurais já são casos perdidos. Segundo o lunarca, não é apenas Thraben que está ameaçada, mas sim toda a existência da Igreja de Avacyn está em perigo. Ele sabe que em breve os fiéis irão se voltar para magia negra devido a ineficiência da fé. Porém, embora a fé não seja mais uma arma forte, Mikaeus ainda acredita que a própria força dos homens pode resistir perante um ataque. Assim, ele ordena que a cidade se prepare para um cerco, pois as paredes irão se manter, com ou sem a benção da Igreja.

Thalia, uma das mais prodigiosas integrantes do protetorado local, tenta encontrar seu mentor, Lothar, o guardião de Thraben. Ela está preocupada pois sabe que os cavaleiros são ineficientes em cercos e uma onda de zumbis foi avistada na estrada vindo em direção à cidade. Entretanto, parece que o líder da guarda perdeu completamente a fé devido a falta das proteções angelicais. Mas Thalia não vai deixar isso apagar a chama da esperança que arde em seu peito e vai lutar enquanto ouvir vida em seu corpo.

A horda infindável de skaabs e carniçais se aproxima de Thraben sob a tutela de Gisa. Seu irmão Geralf afastou-se do grupo, para adentrar sozinho na cidade e executar outra parte de seu plano. Orgulhoso de sua criação, o flagelo Grimgrin tornou-se o terror que assobra o coração dos homens no campo de batalha. Seus skaabs não são tão resistentes quando os zumbis de Gisa, mas a combinação de ambas forças formou um exército temível.

Não demora muito para a onda de morto-vivos chocar-se contra as defesas de Thraben. O cerco se inicia, mas as táticas de Gisa são bem elaboradas. Ela queima os campanários, derruba os arqueiros, cava túneis sob os muros, utiliza os skaabs de múltiplos braços para arremessar pedras e deixa a porta da frente sob cargo de Grimgrin.

Thraben logo se tornou uma carcaça e os abutres começaram a sobrevoar a cidade. O exército de mortos parece um formigueiro, devorando tudo que é bom e deixando uma mancha negra em seu caminho. O chão treme e é possível ouvir o muro exterior ruir sob o assalto. Sem Avacyn, pedras que duraram milhares de anos irão desmoronar em pó. Thalia ainda não desistiu, mas seu mentor Lothar enlouqueceu e ela precisa assumir o comando da resistência. Mikaeus, cada vez mais descrente, nomeia Thalia a nova guardiã e todos os cavaleiros remanescentes seguem suas ordens, começando a remover a palha de cada teto da cidade.

Enquanto isso, Geralf se esgueirou antes do cerco e adentrou na Catedral. As mãos trêmulas do lunarca estão terminando de escrever um parágrafo em seu diário. Cansado e sem esperança do retorno de Avacyn, sua fé está abalada. Ele escuta uma batida em sua porta e rezando por boas notícias ele a abre. Surpreendentemente, que está ali é o próprio Geralf, com um punhal dourado em mão. O necromante sorri brevemente e mata o lunarca com um golpe certeiro. Regojizando em sua ascensão sombria, ele procura um jeito de notificar sua irmã do sucesso de sua empreitada.

A batalha continua violenta nos portões da cidade, mas Thalia tenta ganhar tempo para seus homens recuarem. O portão principal caiu a poucos momentos. A turba repugnante entrou no anel externo da cidade e seu fedor horrível deixou os soldados enjoados. Mas os portões internos foram mantidos, deixando os carniçais se empilharem em seu assalto implácavel. Quando as defesas falharam, Thalia acendeu um simples fósforo. Pareceu uma eternidade para aquela minúscula chama cair dos dedos dela na palha seca retirada dos telhados de Thraben. Em segundos, o anel externo se tornou um a roda de fogo. Um pequeno palito se tornou o salvador da cidade.

Os skaabs foram totalmente destruídos, mas sem boa parte de seu contingente, Gisa decidiu abandonar a investida, revoltada com a fraqueza dos mortos-vivos do irmão, deixando Geralf à sua própria sorte. Thraben perdeu mais cátaros do que nunca antes na história, mas a cidade ainda se mantém e a Catedral ficou intacta. O bispo Alwin assumiu o comando temporariamente das atividades religiosas, ocultando o cadáver de Mikaeus e enviando os melhores inquisidores para resolver este pavoroso crime. O falecido lunarca foi selado em uma câmara secreta, sem nenhum tipo de rito cerimonial. A maior parte do cadáver foi recuperado, mas o coração não foi encontrado em lugar nenhum.

Embora provalmente toda a comunidade de necromantes venha a zombar da falha de Geral e Gisa, o velho necromante não estava nem um pouco preocupado. Durante sua fuga de Thraben, ele encontrou uma garota encantadora que atende pelo nome de Liliana. Ela estava vagando em torno da catedral, aparentemente procurando alguma coisa. Após uma breve conversa com a moça, Geralf soube quem era ela e o quanto ela também tinha interesse no lunarca. O necromante tinha encontrado uma aliada muito mais poderosa do que sua irmão. Então, ele não estava realmente nenhum pouco preocupado com a zombaria que fariam com ele quando a notícia de que Mikaeus iria repousar feliz no descanso eterno, coberto pelo Sono Sagrado, pois ele sabia que a eternidade não é um tempo tão longo afinal. Principalmente para Liliana.
 
 

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